CRÍTICA| O Telefone Preto: Ethan Hawke incorpora medos da geração Stranger Danger em 2022

Mas será que a nostalgia macabra é suficiente atualmente?
By CAJR
18/07/2022

Normalmente, a nostalgia é uma mistura de saudade, alegria e melancolia. Mas para uma parcela das crianças que cresceram nos 70 e 80, sobretudo nos Estados Unidos (EUA), rememorar esse período pode ser cruelmente sangrento e infestado de pesadelos persistentes. Existe, inclusive, uma denominação para essa geração: os Stranger Danger (Perigo Estranho, em tradução livre).

O Telefone Preto chama todos aqueles que se lembram de temer uma van sem identificação, os vizinhos sussurrando, um bicho-papão aparecendo a qualquer momento para arrancar sua liberdade, família e vida. Um conto sombrio de um serial killer que tem como alvo crianças, o longa tem algumas ideias distorcidas e reviravoltas inteligentes. Mas isso nos choca como aqueles medos de muito tempo atrás?

Nos anos 70, houve o horrendo caso de crime real de John Wayne Gacy, o Palhaço Assassino. Nos anos 80, Stephen King criou sua própria versão com seu romance de terror sobrenatural, It. Agora, as crianças que cresceram à sombra dessas histórias estão fazendo seus próprios filmes de terror. O Telefone Preto reúne o trio de talentos de A Entidade — filme eleito o mais assustador de todos os tempos — : o diretor Scott Derrickson, o roteirista C. Robert Cargill e o protagonista Ethan Hawke. Juntos, eles dão vida a um conto original de Joe Hill, escritor e filho de ninguém menos que o lendário Stephen King.

Os atores Ethan Hawke e Mason Thames, fazem parte da história que apresenta o drama de um garoto de 13 anos, sequestrado por um assassino de crianças, The Grabber, que arrebata meninos adolescentes em plena luz do dia.

Nostálgico em suas cores e fotografias, Derrickson traz à tona um subúrbio dos anos 70 corrompido pelo horror de brigas, violência, bullying e da van preta que circula pelas ruas. Após ser sequestrado, Finney é mantido preso em um porão à prova de som. 

Tudo que o garoto consegue ver é um telefone preto desconectado. No entanto, sua esperança está justamente neste fio que misteriosamente o conecta as vítimas anteriores do criminoso em uma missão de sobrevivência.

Determinadas a impedir que Finney tenha o mesmo fim que elas, as vítimas ajudarão ele e sua corajosa irmã, Gwen, que possui habilidades de clarividência, interpretada por Madeleine McGraw, a fugir de mais um cenário tenebroso. É justamente a história que caminha paralelamente ao sequestro que torna o filme singular.

Além do roteiro muito bem - embora tenha lá suas conveniências - costurado com a direção que proporcionam momentos chocantes e bastante assustadores, as atuações de Hawke e Mason merecem destaque. Com suas sinistras máscaras, olhares marcantes e jogadas corporais, que me lembram um pouco a ótima atuação de Joaquin Phoenix em "Coringa", Hawke consegue entregar muito além do que a violência desenfreada de seu personagem. 

Com uma vilania imprevisível, Grabber demonstra um comportamento sugestivo a regressão de idade, visto em criminosos que passam por traumas na infância e são transpassados ao telespectador por nuances da atuação do ator.

Já Mason como Finney é um convite ao melhor do suspense. Todas as formas com que o ator demonstra suas intensas mudanças de emoções, que vão de medo a comédia juvenil, são o completo desenvolvimento de um personagem que o fará tremer.

Acima eu disse que as crianças da geração Stranger Danger estavam fazendo filmes, a resposta está na filmografia de Derrickson e Cargill. Em O Telefone Preto não temos o melhor filme da dupla, mas ele é, sem dúvidas, um presente cativante para uma nova geração de fãs de terror.

O Telefone Preto estreia nesta quinta-feira (21) nos cinemas brasileiros.


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CAJR - Carlos Alberto Jr

Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor de filmes valvulado. Jornalista do Norte que invadiu o Sudeste para fazer e escrever filmes.
  • Animes:Cowboy Bepop, Afro Samurai e Yu Yu Hakusho
  • Filmes: 2001 – Uma Odisseia no Espaço, Stalker, Filhos da Esperança, Frank e Quase Famosos
  • Ouve: Os Mutantes, Rush, Sonic Youth, Kendrick Lamar, Arcade Fire e Gorillaz
  • Lê: Philip K. Dick, Octavia E. Butler, Ursula K. Le Guin e Tolkien
  • HQ: Superman como um todo, assim como as obras de Grant Morrison e da verdadeira mente criativa por quase tudo na Marvel: Jack Kirby