CRÍTICA | Viúva Negra – um presente tardio

Novo filme da Marvel é uma ótima aventura de ação e espionagem, mas um péssimo jeito de introduzir à Fase 4 do MCU
By CAJR
14/07/2021

Esse texto contém spoilers de Vingadores: Ultimato

Viúva Negra finalmente chega às grandes e pequenas telas após um atraso de mais de 14 meses, mas eu diria que esse atraso foi bem maior, cinco anos no mínimo. Por mais que o filme em si dê sim uma despedida digna para Scarlett Johansson de sua personagem, o novo longa da Marvel não funciona como introdução à Fase 4 do MCU e acaba parecendo muito mais um tapa buraco no calendário do estúdio.

Trama

O longa acontece logo após os eventos do “Capitão América: Guerra Civil” e antes dos acontecimentos de “Vingadores: Guerra Infinita”, e traz a protagonista Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) fugindo do General Ross (William Hurt) e seu exército, que pretende prendê-la pela violação no tratado de Sokovia.

Isolada e precisando de ajuda, Natasha acaba confrontando seu passado, juntando-se a sua irmã Yelena (Florence Pugh) e às figuras parentais Melina (Rachel Weisz) e Alexei (David Harbor).

Yelena explica para Natasha sobre as novas agentes que estão sendo quimicamente manipuladas para se tornarem assassinas sem pudores. Juntas, elas se unem para derrotar o grande vilão que está por trás disso tudo.

Referências a 007

Viúva Negra é uma produção rara da Marvel, um filme que – embora ainda muito vinculado ao resto da mitologia da franquia – consegue ser muito funcional enquanto uma aventura isolada, quase incapaz de criar uma sequência direta. Lembrando alguns dos últimos capítulos da franquia 007.

A propósito, as semelhanças com os últimos filmes de James Bond não ficam somente na sua estrutura narrativa perante a um universo bastante extenso. Na verdade, a trama mais pé no chão, a direção nas cenas de ação – com exceções de alguns momentos de exagero – e até mesmo a construção do elenco de apoio, fazem boas referências a franquia inglesa de espionagem.

Cate Shortland foi um grande acerto

Parte desse mérito fica a cargo da diretora Cate Shortland (“Berlin Syndrome”), uma das grandes referências do cinema australiano na atualidade, sobretudo em dramas introspectivos. Até por essa característica da diretora o filme é muito mais sóbrio e tem pouca comédia. Se distanciando assim da maioria das aventuras da Marvel nos cinemas.

Como uma boa diretora de drama, Shortland também consegue extrair muito de seus personagens, principalmente da dupla Johansson e Pugh. A propósito, em muitos momentos do longa, Yelena conseguia se destacar até mais que a personagem-título.

Mas se a mão de Shortland pesou positivamente na atuação da dupla central da trama, o mesmo não se pode dizer de Alexei, que tem uma função narrativa muito simples: alívio cômico. Por mais que Harbor demonstre melancolia em alguns momentos, ele acaba sendo sacrificado para que o filme tenha alguns momentos pontuais de comédia.

Além Alexei, o Treinador, antagonista do longa, também acabou tendo uma função narrativa muito limitada, caindo num problema bem comum nas produções da Marvel: os antagonistas que só funcionam em cenas de ação. O Treinador é exatamente isso, até mesmo por sua característica de copiar técnicas de luta. Suas aparições no longa acabam tendo pouco peso para a trama central porque ele fica resumido a um lutador habilidoso.

Os erros da Marvel e Disney

Em resumo, o Viúva Negra é um ótimo filme, até mesmo acima da média aos filmes solos da Marvel, mas o longa perde muito peso justamente por ser lançado apenas em 2021. Todo o desenvolvimento que tivemos nesse filme parece tardio ou inútil, tendo em vista que a personagem-título se sacrificou em Vingadores: Ultimato.

Outro grande erro da Marvel foi em lançar o filme às vésperas da season finale de Loki, que dividirá atenções com o longa no decorrer dos próximos dias, encurtando a vida útil dele.

Pra finalizar, os assinantes da Disney+ só podem ter acesso ao longa com o Premier Access, que no Brasil a taxa adicional é de R$69,90. Outro meio de assistir ao filme legalmente no país é se arriscando indo ao cinema. Ou seja, muitos estão recorrendo a pirataria, mesmo pagando a mensalidade do serviço de streaming. O que é uma pena para o fã brasileiro.

Veredito

Como o título desta crítica resume, Viúva Negra parece um presente tardio para uma das personagens mais longevas do MCU. O que é uma pena para o trabalho de Cate Shortland, que entrega um ótimo filme, mas que sofre muito mais por fatores externos. Dito isto, ainda vale a pena ver o filme, seja por meios legais ou não.


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CAJR - Carlos Alberto Jr

Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor de filmes valvulado. Jornalista do Norte que invadiu o Sudeste para fazer e escrever filmes.
  • Animes:Cowboy Bepop, Afro Samurai e Yu Yu Hakusho
  • Filmes: 2001 – Uma Odisseia no Espaço, Stalker, Filhos da Esperança, Frank e Quase Famosos
  • Ouve: Os Mutantes, Rush, Sonic Youth, Kendrick Lamar, Arcade Fire e Gorillaz
  • Lê: Philip K. Dick, Octavia E. Butler, Ursula K. Le Guin e Tolkien
  • HQ: Superman como um todo, assim como as obras de Grant Morrison e da verdadeira mente criativa por quase tudo na Marvel: Jack Kirby