Em 2011, a dupla Wes Craven e Kevin Williamson, retornaram para franquia Pânico com a proposta de renovar a franquia. Eram 11 anos de hiato entre Pânico 3 e Pânico 4, mas Craven só voltou para a direção porque, segundo ele, Kevin Williamson finalmente tinha um roteiro tão inovador quanto o clássico Pânico, de 1997. Embora hoje, principalmente entre os fãs, Pânico 4 seja e segundo melhor filme da franquia, ele foi, à época, um fracasso de bilheteria, que praticamente enterrou uma das séries mais aclamadas do terror.
Sim, essa é uma crítica sobre Matrix Resurrections, mas as semelhanças entre os filmes número 4 de ambas as franquias são impressionantes. Não só como história, mas também como projeto.
Ainda em Pânico 4, a cena... ou cenas de abertura do longa mostram de cara que Craven e Williamson entenderam que eles estavam se repetindo em Pânico 2 e 3, indo contra a ideia tão inteligente do primeiro filme da franquia e fazendo continuações caça-níqueis, as quais eles mesmos criticavam no roteiro do filme original. Há sim um trabalho de atualização com a franquia, assim como se alia à nostalgia com o quarteto de protagonistas no filme.
Depois que assisti Matrix Resurrections, automaticamente pensei nessas coisas que escrevi acima. Na pressão que é voltar para uma franquia extremamente rentável, que fez história para seu gênero no cinema, atualizar, ser nostálgico aos fãs e ainda ser um filme digno do nome da franquia. Lana Wachowski certamente pensou em alguns desses aspectos, mas são tantos que não coube num filme só.
O novo velho filme
Em Matrix Resurrections Keanu Reeves voltou a ser Thomas Anderson/Neo e Carrie-Anne Moss interpretou Trinity. A grande falta foi Laurence Fishburne, o eterno Morpheus, que foi substituído por Yahya Abdul-Mateen II. Neil Patrick Harris e Jessica Henwick entraram, sem necessariamente substituir ninguém do elenco original entre os protagonistas da saga. Essa última ainda recusou um papel em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis para entrar no mundo tecnológico de Matrix.
No novo longa, Lana Wachowski usa da metalinguagem para abordar a franquia Matrix com uma trilogia de jogos de videogame criada pelo personagem de Keanu Reeves, que é tão revolucionária ao ponto de transformar Thomas Anderson em uma espécie de lenda dos jogos.
Guardada as devidas proporções, temos na premissa algo parecido com Space Jam 2, onde a Warner tenta se vangloriar de seu próprio sucesso e de seu legado, até mesmo promovendo a si mesma, por meio de um filme. Em Resurrections, a Warner Bros. é dona da desenvolvedora de jogos em que Anderson trabalha. Uma jogada que já era bem questionável na sequência dos Looney Tunes, que fica ainda mais desconexa e repetitiva no novo Matrix. E a Warner sabe disso, mas prefere seguir o lema de que “a propaganda é a alma do negócio”.
É curioso pensar que Lana Wachowski topou fazer o filme agora, mesmo sendo pressionada por tantos anos. Assim como Pânico 4, pensei que ela tinha na manga uma história nova, que fizesse sentido ser contata em 2021. Mas na verdade, conceitualmente, Resurrections parece muito mais um filme comemorativo. Sabe, aqueles especiais de 10, 20 anos de uma franquia? Pois é...
No fim das contas Matrix Resurrections cativa pelas homenagens e por ter noção sobre o tamanho da franquia e brincar com isso, assim como a obra sabe que não precisava existir. Com personagens novos, que são simpáticos, e cenas de ação muito bem boladas – embora nada memoráveis –, o filme não exige muito do espectador, apenas que ele deixe de lado a implicância sobre a necessidade desse filme. Já que ele foi feito, nos resta aproveitar. Mas que faltou Matrix, faltou.
Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor de filmes valvulado. Jornalista do Norte que invadiu o Sudeste para fazer e escrever filmes.