Quase dois anos após a estreia de Turma da Mônica: Laços nos cinemas, a turminha do limoeiro, agora um pouco mais velha, retorna nas telonas em Turma da Mônica: Lições. Assim como no primeiro filme, o novo longa é uma adaptação da Graphic MSP - projeto da Maurício de Souza Produções, que desenvolve histórias com quadrinistas nacionais, sobre nossos amados personagens dos gibis da Turma da Mônica, com traços e histórias diferentes que estamos acostumados - dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi. Numa obra que reforça os laços entre os protagonistas, mas foca no amadurecimento deles.
Depois de "fugir de casa" para encontrar Floquinho em Laços. Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali se metem em encrenca na escola. Além do castigo, grandes mudanças vem como consequência deste erro. Os quatro terão que lidar com essas "novidades" sozinhos, cada um com desafios diferentes.
É quando a molecada tem que enfrentar o novo que o longa tem a oportunidade de abordar de forma sutil, porém contundentes, temas como, bullying, conflitos de gerações, medos, e claro, a solidão. Sair da segurança de seu grupo de amigos e conhecer pessoas novas pode ser assustador em qualquer idade. Se na primeira aventura, o quarteto reforçou os laços que sustentam sua amizade, em Lições eles vão descobrir se podem mantê-los apesar das circunstâncias.
Cada desafio imposto a cada um dos personagens, no entanto, apenas reforçam a essência e personalidade que crescemos adorando, a gulodice da Magali, os problemas de fala de Cebolinha, a fobia de água do Cascão e a força da Mônica.
Mas tudo isso só poderia funcionar se os atores - agora nem tanto - mirins conseguissem desempenhar essa transição da infância para a pré-adolescência. E mais uma vez, Giulia Benite mostra que nasceu para interpretar a Mônica – a jovem atriz incorpora com virtuosidade a protagonista e conduz super bem a história, enquanto Laura Rauseo, entrega uma Magali mais profunda que a do primeiro filme. Kevin Vechiatto e Gabriel Moreira, Cebolinha e Cascão respectivamente, brilham divertidamente em cada cena que aparecem.
Vale lembrar e ressaltar o esforço de Rezende, que desde Bingo: O Rei das Manhãs - uma quase cinebiografia do Bozo -, faz cinema pensando na cultura pop brasileira, apostando em nossas histórias, costumes e cultura. Além do amor pelo fazer cinema brasileiro, o diretor é tecnicamente brilhante, entregando uma combinação incrível de uma estética e vividamente colorido, o bairro do limoeiro fica no meio-termo entre o real e a fantasia, visto que não se diz em que período estamos, mas conhecemos muito bem o local - diretamente do gibis.
Levar para o audiovisual uma história em quadrinhos tão enraizados na cultura e imaginário popular brasileiro, é um desafio tremendo. E trabalhar o crescimento dessas crianças com temas mais pesados, que falam sobre o amadurecimento torna o desafio ainda maior. Mas isso parece não ter sido um empecilho para os irmãos Cafaggi lá em 2015, assim como para o diretor Daniel Rezende. Ambos criaram, à sua maneira, e de acordo com suas respectivas mídias, obras inesquecíveis, mostrando as frustrações e alegrias da vida de um grupo de personagens tão queridos dos brasileiros, uma abordagem de gente grande que encontra em cada um de nós, que já fizemos essa travessia, um elemento nostálgico e de identificação; e em outro extremo, dialogando com precisão com as crianças que ainda estão nessa estrada. Uma lição de vida mesmo.
Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor de filmes valvulado. Jornalista do Norte que invadiu o Sudeste para fazer e escrever filmes.