A história de Pantera Negra: Wakanda para Sempre foi marcada pela morte, fora das telas, do rei de Wakanda, T’Challa. O enredo, como sabemos, foi criado para se adaptar à repentina morte do protagonista da saga, o ator Chadwick Boseman, em 2020.
Chadwick estreou como Pantera Negra em "Capitão América: Guerra Civil", de 2016. Nesse mesmo ano, o ator foi diagnosticado com um câncer de colo. Ele manteve o diagnóstico sob sigilo, com exceção da família e alguns chegados. Colegas atores e executivos da Marvel Studios, incluindo o presidente Kevin Feige, só ficaram sabendo após a repentina morte do ator.
Fontes próximas do próprio Chadwick Boseman disseram que o ator estava convencido de que venceria a doença até uma semana antes da morte, quando seu diagnóstico piorou. Naquele momento, o segundo filme do Pantera Negra estava nas últimas etapas da pré-produção, com filmagem marcada para março de 2021. O diretor e roteirista Ryan Coogler estava dando os toques finais na história do ‘Pantera Negra 2’ quando Chadwick Boseman faleceu, em 28 de agosto de 2020.
“Fiquei o último ano preparando, imaginando e escrevendo as falas dele, que nós nunca veríamos. Saber que não vou ver outro plano dele no monitor, ou chegar perto dele para pedir outra tomada, me deixa abalado”, escreveu Coogler na sua homenagem a Chadwick no Los Angeles Times, dois dias após o falecimento.
“Quando ele se preparava para um filme, levava em conta cada decisão, cada escolha, não apenas por como se refletiria em si mesmo, mas pelo eco que essas escolhas fariam” explicou Coogler. A escolha do xhosa como língua oficial de Wakanda foi feita pela capacidade que o Chadwick tinha de aprender as suas falas nesse idioma no mesmo dia da filmagem de "Guerra Civil".
“[Chadwick] propôs que seu personagem falasse com sotaque africano para conseguir apresentar o T’Challa para o público como um rei africano, cujo dialeto não tinha sido conquistado por Ocidente”.
Após a morte do ator, Ryan Coogler assumiu a nada invejável tarefa de reinventar o projeto na íntegra sem o líder do elenco, que tivera um impacto definitivo na idealização de toda a saga do Pantera Negra. O luto pelo Chadwick, inevitavelmente, impregnaria sua nova visão. Numa afortunada coincidência, o luto já fazia parte da história do Pantera Negra 2 desde o começo, para bem o para mal.
Numa entrevista recente com a Inverse, Ryan Coogler falou sobre a versão do roteiro que não era para ser. Dados os acontecimentos, poderia se esperar que o tom do filme tivesse mudado radicalmente, ainda que o diretor afirmasse que não foi o caso. “A mudança de tom, devo dizer, foi menor do que a mudança no elenco”, explica o cineasta.
O luto fazia parte integral do roteiro do Coogler desde a idealização. Porém, quem vivia esse luto era o próprio T’Challa. É bom lembrar que durante os eventos de "Vingadores: Guerra Infinita", Pantera Negra é um dos heróis que sucumbem ao “estalo” do Thano. Foi só após cinco anos dentro da ficção, no "Vingadores: Ultimato", que os Vingadores conseguem reverter os feitos do vilão e o T’Challa volta à vida.
“O personagem processaria a perda do seu tempo, o fato de estar de volta após ter ido embora por cinco anos. Como um homem com tanta responsabilidade fazia tantos anos, ele volta depois de uma ausência forçada de cinco anos. Era isso o que o filme abordava. Ele processava o luto pelo tempo que não podia recuperar”, diz Coogler.
No entanto, de acordo com o diretor, vários elementos já estavam no roteiro desde o começo. Namor, por exemplo, sempre foi concebido como o vilão a vencer neste filme. A história de Pantera Negra 2, na sua forma final, devia ser sobre continuar o legado do falecido rei de Wakanda. A rainha Ramonda (Angela Bassett) e a irmã do T’Challa, Shuri (Letitia Wright), continuariam protegendo o reino de Wakanda dos ladrões que buscavam se apoderar do vibranium do reino.
“Quem era o protagonista, quais as suas falhas, com que lidava durante a viagem: tudo isso teve de mudar pela perda [do Chadwick], bem como as decisões que tomamos para seguir em frente”, conclui Coogler.
O novo capítulo na história de Pantera Negra fez ressurgir outro fragmento do futuro que não seria para o T’Challa: sua posição como nova liderança dos Vingadores. Vale lembrar que após a batalha final em "Vingadores: Ultimato", os Vingadores ficam efetivamente desintegrados. Tony Stark (Robert Downey Jr.) e Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) morreram, enquanto Steve Rogers (Chris Evans) decide viajar para o passado e viver a vida que não pôde ter.
Conforme explicaram os diretores Joe e Anthony Russo numa sessão de Reddit AMA, existia uma razão narrativa para o T’Challa/Pantera Negra ser o primeiro dos heróis em reaparecer nos portais místicos do Doutor Estranho para a batalha final.
“Sempre quisemos que Sam Wilson fosse o primeiro a se comunicar com o Capitão América. Sam estava perdido em Wakanda, pelo que, logicamente, o primeiro portal a ser aberto seria ali. E a primeira pessoa a ultrapassá-lo seria o rei T’Challa, junto ao seu exército, para defender os outros super-heróis na batalha e o mundo inteiro”, explicaram no Reddit.
Numa cena com dezenas de super-heróis, Pantera Negra entra como líder dos “reforços” para os heróis e se mantém como um dos protagonistas. ‘Ultimato’ veio depois do enorme sucesso do primeiro filme solo do personagem e coincide com uma etapa em que T’Challa é nomeado nos quadrinhos como a nova liderança dos Vingadores.
Talvez Chadwick Boseman estivesse sendo preparado para ser a nova cara do time e da franquia, como foi o Robert Downey Jr. no seu momento (a bilheteria e a resposta da crítica justificavam). Mas, tal como a primeira versão da história de Pantera Negra 2, a possibilidade ficou num melancólico “talvez”.
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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor de filmes valvulado. Jornalista do Norte que invadiu o Sudeste para fazer e escrever filmes.