A década de 1960 foi marcada pela contracultura, grandes eventos como o Woodstock e marcos em lutas sociais. Malcom X e Martin Luther King, tornaram-se as principais figuras na luta pelos direitos civis para afro-americanos.
Claro que esses episódios sociais impactariam a cultura pop, desde movimentos cinematográficos como o Blaxploitation, nos Estados Unidos (EUA) e o Cinema Novo, no Brasil. Então era questão de tempo para que a dupla Jack Kirby e Stan Lee criassem um personagem que sintetizasse esse período da história, bem como notaram a necessidade de representatividade para seus leitores negros.
Em 1966, nas páginas do número 52 de O Quarteto Fantástico, o rei T'Challa apareceu pela primeira vez e começou a trilhar um caminho que abriria espaço para outros heróis que garantiram a consolidação da representatividade negra. Falcão, Miles Morales, Luke Cage, Tempestade e Blade são bons exemplos da marca deixada pelo Leopardo Negro.
Isso mesmo, Leopardo Negro! O primeiro nome dado ao herói, em 1972, não era Pantera Negra e havia motivo para a escolha. O Partido dos Panteras Negras ganhou ainda mais representatividade e popularidade na década de 1970 e, por isso, a Marvel quis afastar-se de possíveis referências.
A verdade é que o Rei de Wakanda deixou uma forte marca nas HQs. A história de T'challa é considerada o primeiro romance das Graphic Novels, mas a importância do Pantera superou todas as fronteiras, sejam geográficas ou raciais. Embora tenha começado como um aliado do Quarteto Fantástico, ele também esteve ao lado dos Vingadores e marcou as principais edições do grupo.
Houve um momento em que o Pantera se tornou até mesmo o Demolidor. Parece confuso, mas há uns dez anos o título "Pantera Negra: O Homem Sem Medo." Trouxe T'Challa como guardião de Hell's Kitchen.
Nos quadrinhos, na verdade, outro personagem se apresentou como Pantera Negra. Kasper Cole, um policial nova iorquino, tentou fazer justiça imitando o herói. Cole acabaria se tornando o Tigre Branco e se aliando ao verdadeiro Pantera Negra.
Já nos cinemas, em Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, com lançamento previsto para novembro de 2022, o manto do herói, que no primeiro filme foi vestido pelo vilão Killmonger (Michael B. Jordan), poderá ser assumido por Shuri (Letitia Wright), a irmã de T'Challa e, a maior conhecedora da tecnologia usada no traje do herói. A hipótese de que a personagem dê continuidade ao legado do irmão é bem sólida, afinal, nos quadrinhos, Shuri já vestiu a armadura do rei e, além disso, a forte simbologia geracional dos Panteras estaria garantida. Também é um fator importante a presença de uma mulher como protagonista, tendência que a Marvel adotou para estabelecer um parâmetro importante: celebrar a diversidade.
Outra opção que agrada grande parte do público é M'Baku (Winston Duke), chefe da tribo mais isolada de Wakanda se tornar o próximo Pantera Negra. A verdade, entretanto, é que está possibilidade é, no mínimo, improvável. Acontece que a tribo que salvou Wakanda no primeiro filme da franquia não apenas mostra traços antagônicos quanto aos outros grupos que apoiam T'Challa, como também não comunga da mesma fé de todos os Panteras. Quem assume a identidade do herói é, essencialmente, adorador de Bast, a deusa pantera, enquanto M'Baku e seu povo seguem Hanuman, o Deus Gorila.
Já deu para perceber que Killmonger também voltará a a aparecer em Pantera Negra: Wakanda Forever. O antagonista agradou muita gente na primeira vez em que recebeu a benção de Bast e se tornou o rosto por trás da máscara do herói. A possibilidade de Killmonger ressuscitar como nos quadrinhos não é nula e isso permitiria a ele reclamar o título de Pantera.
A atuação de Chadwick Boseman foi tão marcante no MCU que a Marvel decidiu não dar o papel do rei T'Chala para outro ator.
Mas para o saudoso artista, o manto do herói era superior a seu personagem. Em 2017, a Heroic Hollywood publicou uma entrevista em que Boseman afirmou no programa de Jimmy Kimmel que o traje do pantera supera a máscara e quem ela esconde.
O ator apontou que o mistério que envolve o herói é também a sua identidade definitiva . De fato, os segredos e histórias que compõem o mito do Pantera Negra supera até mesmo a figura real de T'Challa.
Não é difícil notar que representatividade faz do herói de Wakanda mais do que apenas um combatente do mal. A máscara que esconde o rosto do justiceiro revela um coletivo de faces antes sem espaço nas HQs.
Professor de Literatura, redator, locutor e estudante de Jornalismo. Gosta de história, lê HQs desde sempre e nunca deixa os livros de lado.