Encerrar uma trilogia é sempre um problema. Nem mesmo o grande Francis Ford Coppola ficou isento de críticas com a terceira parte de O Poderoso Chefão. Recentemente, a nova trilogia de Star Wars entregou um bom filme, um filme que dividiu opiniões (mas que eu, pessoalmente, adorei) e um péssimo encerramento de trilogia. Já a nova trilogia de Halloween (2018-2022), de David Gordon Green, também iniciou com um bom filme. Halloween (2018) foi bem recebido pelo público. O diretor nos apresentou o Michael Myers clássico, que sai andando e matando na noite do Dia das Bruxas. Trouxe de volta Laurie Strode (Jaime Lee Curtis), traumatizada pelos eventos ocorridos em 1978. O roteiro decidiu romper com todas as continuações, retirando o parentesco entre Laurie e Michael, algo que pode não ter agradado a todos os fãs, mas foi aceito.
"Halloween Kills" já foi um longa mais ambicioso. Green quis fugir do básico e quebrar com vários conceitos estabelecidos pelos filmes anteriores, mesmo contando somente os de 1978 e de 2018. A “grande revelação” era que Myers não estava nem nunca esteve atrás de Laurie, ele apenas queria voltar para casa.
Mesmo com essas pretensões, o longa de 2021 apresentou coisas positivas. Muitos fãs detestaram, mas eu gostei dos efeitos de Michael na população de Haddonfield, embora soe bobo. O final, com a morte de uma personagem importante, deixou um gancho para o próximo filme, ou melhor, deixaria. Os roteiristas optaram por dar um salto temporal de 4 anos (os primeiros 2 filmes se passam na mesma noite de Halloween de 2018).
O salto temporal já era um alerta vermelho. Rumores sobre a pandemia de Covid-19 ser abordada e até mesmo sobre a presença do infame Culto de Thorn e uma filha de Michael Myers surgiram. A preocupação com o que viria pela frente se tornou forte e muito justificada.
Halloween Ends (2022) é, sobretudo, um filme pretensioso, beirando o ponto da arrogância ao tratar com desprezo o material original. O salto temporal fica completamente deslocado. O roteiro opta por abandonar os personagens clássicos e focar em uma nova figura, Corey Cunningham (Rohan Campbell), que se envolveu em um terrível acidente um ano depois dos acontecimentos de Halloween (2018) e Halloween Kills (2021).
Não há como se importar menos com Corey. Os fãs estavam ávidos pelo conflito entre Laurie e Michael (aliás, foi por conta disso que o filme se vendeu), uma vez que nossa final girl ficou fechada no hospital ao longo do 2º filme inteiro. Os trailers nos prometeram o encontro final entre os dois… mas o filme opta por um caminho inesperado. A novidade não é algo necessariamente ruim, o problema de Halloween Ends é que o elemento novo vem com o desprezo pelo antigo. Michael quase nem tem tempo de tela, ele participa mais do terceiro ato, o melhor do filme.
É justamente na última parte que Gordon Green mostra, novamente, que sabe dirigir um longa da saga Halloween. Infelizmente nas duas primeiras ele parece ter se esquecido disso. Aparentemente o roteiro quis seguir na linha do trauma comunitário que as duas aparições de Myers causaram – três se contarmos quando ele matou a irmã ainda criança. Mas a comunidade como um todo também só participa da última cena – de um gosto um tanto quanto duvidoso.
A ligação da nova história com o conceito apresentado em Halloween Kills fica somente no nível de frases, como “a cidade precisava de um novo bicho-papão”, ou quando habitantes de Haddonfield culpam Laurie por ter provocado Michael e causado os assassinatos. A culpabilização de Laurie é até um elemento interessante, mas que, assim como vários outros, fica deslocado nesse roteiro.
Mas se o filme não optou pelo básico do slasher como foi Halloween (2018) e não se apegou ao trauma coletivo como Halloween Kills, o que é que ele faz? O roteiro de Ends opta por um caminho que ninguém imaginou, colocar um personagem totalmente novo como o protagonista da trama, para trabalhar a questão do Mal para além de Michael Myers.
Esse é o máximo que podemos ir sem spoilers. É decepcionante ver os rumos que o excelente filme de 2018 tomou. David Gordon Green já prometeu uma trilogia baseada em "O Exorcista" com a mesma pegada dessa trilogia Halloween e também quer fazer um remake – mais um – de O Enigma do Outro Mundo.
Michael Myers está morto? Somente até o próximo reboot, o que talvez demore um pouco. Os fãs ficarão insatisfeitos com o Michael apresentado nesse último filme, muito insatisfeitos. Ao menos temos Jaime Lee Curtis fazendo, como sempre, um ótimo trabalho. É impossível não se empolgar quando Laurie está em tela, uma pena que Ends não se aproveita disso.
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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor de filmes valvulado. Jornalista do Norte que invadiu o Sudeste para fazer e escrever filmes.