Após anos de especulação sobre um possível derivado de Star Wars focado em Obi-Wan Kenobi estrelado por Ewan McGregor, os fãs finalmente tiveram essa produção tão aguardada. Na última sexta-feira (27) A Disney lançou os dois primeiros episódios de Obi-Wan Kenobi em sua plataforma de streaming. Mas será que os 17 anos de espera valeram a pena?
Com a grande quantidade de produções de Star Wars no streaming, alguns fãs - incluindo quem vos escreve - estão cansados da saga Skywaleker. Mas se tinha um personagem e uma história que esses mesmos fãs abririam exceção era a de Obi-Wan. Talvez pelo carinho com o personagem, sobretudo a versão interpretada por Ewan McGregor, ou até mesmo para desvendar alguns mistérios sobre o íntimo do mestre Jedi exilado.
A trama se passa em um dos períodos mais sombrios da história da galáxia, quando o Império oprimia sistemas estelares inteiros e os Jedi eram caçados impiedosamente por Darth Vader e seus Inquisidores. Entre esses Jedi está um Kenobi quebrado e perdido, bem longe do mestre sábio e poderoso que vimos no Episódio IV da cinessérie. Como ele chegou até lá é uma das respostas que a atração tentará responder, mas com algumas boas surpresas pelo caminho.
E pensando nisso, Deborah Chow, a showrunner da série e diretora dos dois primeiros episódios optou por mergulhar na psiquê do personagem, que parece carregar a culpa de não ter salvo os Jedi e ter matado não só o escolhido, mas também um amigo. A estrutura narrativa até aqui, no entanto, é bastante simular a de Luke Skywalker na trilogia clássica. Ou seja, a boa e velha jornada do herói, mas aqui há uns toques de aventuras de personagens mais experientes e sofridos, como a de Joel de The Last of Us e Logan.
O principal diferencial entre este programa e os outros do universo expandido de Star Wars até então é a direção. Diferentemente de O Mandaloriano onde reinam movimentos de câmera comportados e pouca inventividade na filmagem - apesar de entregar um produto sólido - em Obi-Wan Kenobi existe uma tentativa por parte da direção em explorar o ambiente de forma inquieta, seja em trechos que se usa uma câmera na mão ou momentos de perseguição que buscam compensar certas situações inverossímeis com uma energia exacerbada na forma de mostrar.
Ao tratar do personagem título, McGregor entrega com carisma e pesar um Obi-Wan que após anos de reclusão se vê obrigado a entrar em uma nova jornada pela galáxia. Kenobi sente o peso de cada ação, está tentando se desvencilhar de toda a mentalidade fechada que desenvolveu após o trauma que foi a ascensão do império e é tocante ver a situação em que se encontram os Jedi que ainda resistem. No primeiro episódio é criado um paralelo claro entre Obi-Wan e o resto dos Jedi remanescentes quanto a forma de lidar com a queda de seu credo, tudo que resta para o personagem é um sentimento de luto e a esperança única no crescimento do jovem Luke Skywalker para redimir suas falhas.
Uma adição bem-vinda ao cânone que chega com a série é a Inquisidora Reva Sevander, personagem que articula os principais acontecimentos dos dois primeiros episódios e aparenta ter certa obsessão pela captura de Kenobi. Mesmo com pouco tempo de tela até então já é definido um antagonismo claro entre a personagem e o protagonista.
Outro destaque fica para Vivien Lyra Blair, que embora tenha protagonizado uma cena boba de perseguição, a atriz mirim entrega uma excelente Leia Organa, que aos 10 anos já mostra traços de liderança e aquela atitude desafiadora de autoridade que sempre amamos na personagem durante a trilogia clássica, principalmente quando é direcionada a figuras de poder detestáveis, como na cena em que coloca seu primo arrogante em seu devido lugar.
Agora analisando o lado negativo da estreia, existem momentos de clara oscilação de qualidade entre algumas passagens de personagens secundários e aquelas que envolvem o protagonista. O sentimento que fica é de que a presença de McGregor automaticamente melhora o potencial da série e que quando se trata de outros núcleos - com exceção a Reva - existe um investimento menor tanto no roteiro quanto na direção de arte - que leva um banho de O Mandaloriano. Isso fica evidente principalmente no primeiro episódio, pois no segundo o foco é quase total na dinâmica de Kenobi com a pequena Leia.
Outro fator que pode ser considerado negativo, por se tratar de Star Wars, é que não temos nenhuma cena memorável seja de perseguição, combate ou mesmo na trilha sonora. Claro, ainda temos quatro episódios por vir, mas tratando-se das primeiras impressões, sentimos falta disso.
Esses dois primeiros episódios de Obi-Wan Kenobi são um início forte para uma série com muito potencial e são bem sucedidos em preparar terreno para conflitos maiores que vão rolar mais na frente. A cena em que Kenobi descobre que Anakin Skywalker - mais uma vez vivido por Hayden Christensen - está vivo é bem dramática e Ewan McGregor entrega tudo o que é preciso para deixá-la ainda melhor, o que somado à já confirmada revanche entre ele e seu antigo aprendiz criam uma enorme expectativa no coração de qualquer fã.
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Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor de filmes valvulado. Jornalista do Norte que invadiu o Sudeste para fazer e escrever filmes.