Essa crítica contém spoilers leves de Vingadores: Ultimato e da sua 1ª temporada da série
Acompanhar quase 30 filmes para encerrar o arco de Thanos e as joias do Infinito em “Vingadores: Ultimato”, por mais recompensador que tenha sido, exigiu muito esforço do público do cinema, que é infinitamente maior que dos leitores de quadrinhos. Agora, a fase 4 do MCU tem a difícil missão de criar algo tão grandioso quanto ao que vimos até então e fazer esse público continuar consumindo suas histórias.
As séries da Marvel da Disney+ nasceram com a proposta de, além de contar uma história contida, também contribuir para preencher lacunas desse universo unificado com o cinema.
Se WandaVision funciona como uma narrativa de luto e dá algumas pontas soltas os próximos passos do MCU, Falcão e o Soldado Invernal foi mais contido em seu próprio universo apresentando um novo Capitão América. Agora Loki... bom, a série do Deus da Trapaça finalmente apresenta um vilão que poderá ter grandes repercussões em todo o MCU.
Não tendo medo de bagunçar, literalmente, com as múltiplas possibilidades do universo, Loki ganha um peso fundamental para o MCU, o que faz da série uma obra obrigatória para o que ainda está por vir nos cinemas. Criando assim um problema bem comum nas histórias quadrinhos: consumir muitas histórias para entender o arco macro.
Mas sobre o que trata a série do Deus da Trapaça?
Pois bem, Loki começa imediatamente após o vilão ter sido capturado em “Os Vingadores”, mas, como acompanhamos em “Vingadores: Ultimato”, ele consegue pegar o Tesseract e assim fugir. O problema é que essa fuga violou uma regra no tempo, o tornando um criminoso temporal.
Nos dois primeiros episódios somos introduzidos a Agência de Variação Temporal (AVT, ou TVA no original), os Guardiões do Tempo, a Linha do Tempo Sagrada e os Homens-Minuto.
A série até flerta com a premissa de que Loki seria um “servidor público” do tempo, corrigindo falhas na Linha do Tempo Sagrada como forma de pagamento por seu crime. Mas na metade do show descobrimos que Loki é muito mais que isso.
Doctor Who?
Essa megalomania em extrapolar com linhas temporais e criar bagunças no universo lembra muito a 5ª e principalmente 6ª de Doctor Who. Na época, protagonizada por Matt Smith e comandada pelo showrunner Steven Moffat, o show britânico literalmente reconstruiu o Big Bang e juntos diversas linhas temporais em um único ponto, colocando em tela lado a lado figuras Winston Churchill, com imperadores romanos e repitilianos.
Toda essa malucique narrativa é vista em Loki, principalmente nas variantes do protagonista, mas uma diferença fundamental as duas produções é a importância do personagem-título. A cada episódio de Loki acompanhamos um leque maior de possibilidades no MCU, ao mesmo tempo que o próprio Loki parece ter menos importância dentro de sua própria série.
Pontos positivos
Convenhamos, Loki só existe porque Tom Hiddleston conquistou milhares de fãs. Uma série solo do personagem, outrora morto por Thanos, além de dar uma sobrevida a um querido personagem/ator, também trouxe umas cartas na manga.
As variantes de Loki, de Sylvie ao Kid Loki, todas funcionam muito bem. Não só narrativamente, mas também pelas atuações. Afinal, se Richard E. Grant não mandasse bem como o Loki Clássico, possivelmente esse seria um papel sinônimo de piadas ao experiente ator. Quem também merece méritos é Owen Wilson com papel de Mobius, em meio a toda maluquice da série, ele é o personagem mais relacionável com o público.
Conclusão
Loki é outra produção da Marvel Studios que sofre com problemas externos a própria obra, que em prol de construir um caminho para a fase 4 do MCU, o contexto se tornou maior que os personagens do show. Diferentemente de WandaVision e Falcão e Soldado Invernal, a série do Deus da Trapaça já tem uma segunda temporada confirmada. Isso quer dizer, todo esse potencial com correções pode fazer deste personagem e universo algo muito mais divertido de se acompanhar.
Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor de filmes valvulado. Jornalista do Norte que invadiu o Sudeste para fazer e escrever filmes.