Um misterioso ronin ajuda uma vila a afastar bandidos que usam equipamentos de Stormtrooper. Um androide piloto, cujo espírito animal é possivelmente Gudetama, bebe óleo de uma xícara de chá. O Astro Boy quer ser um cavaleiro Jedi e por aí vai. Os diferentes mundos dos animes e dos westerns espaciais se unem em Star Wars: Visions. Se parece um projeto dos sonhos, é. As chaves do universo de George Lucas foram entregues a sete diferentes estúdios de anime japoneses. O resultado é um playground exuberante que certamente despertará muitos sentimentos.
Veteranos como Production IG (de Psycho-Pass e Ghost in the Shell) e novatos como Science SARU (de Devilman Crybaby) fornecem sua própria visão em uma galáxia muito, muito distante. É curioso ver a obra de George Lucas, que frequentemente reconheceu a dívida de sua saga para com os filmes de Akira Kurosawa e as tradições de Jidaigeki, sendo refeitas por estúdios japoneses.
Do código de cavalaria semelhante ao Bushido do Jedi a suas vestes esvoaçantes e o que são essencialmente espadas de laser, as influências japonesas de Star Wars sempre foram claramente evidentes. Essas raízes são reconstituídas em nove curtas animados.
Após a conclusão insatisfatória da saga Skywalker por parte dos fãs – incluindo quem vos escreve – Visions é uma grata surpresa, afinal a série oferece mais do que fanservices em formato de anime. Somado isso ao fato dessas histórias não serem obrigatoriamente cânones e à continuidade, permite uma grande vitrine das possibilidades que a mitologia de Star Wars ainda oferece aos seus contadores de histórias.
Estamos fora do raio de alcance dos Skywalkers. Não espere ver uma participação especial de Baby Yoda ou Luke. Embora um conhecido mafioso de Tatooine mostre seu rosto vil e parecido com uma lesma. Encontramos novos personagens e novos planetas entrelaçados na estrutura do universo.
Eu não vou entrar em spoilers pesados nesta análise, porque você realmente deve ir para cada uma dessas histórias novas e desfrutá-las. Além disso, como a maioria têm menos de 20 minutos, revelar até as menores reviravoltas pode revelar episódios inteiros. Mas o que direi é que cada curta faz um excelente trabalho em capturar a sensação clássica de Star Wars, ao mesmo tempo que oferece algo novo, seja visual, temático ou mesmo apenas uma nova perspectiva sobre uma situação familiar.
Não estou exagerando quando digo que não há um filme ruim nesta antologia, mas é claro que existem alguns destaques absolutos que você vai querer voltar uma ou duas vezes por ano a partir de agora.
Star Wars Visions funciona como um grande showreel (compilação das melhores cenas) para os animadores, mas nem sempre para os contadores de histórias. Existem talvez três episódios que têm o potencial de se tornarem séries próprias: O Duelo, O Ancião e O Nono Jedi. O resto tem muitas arestas, muitas vezes prejudicadas pela duração do episódio. Estabelecer a premissa, o protagonista, o sabre de luz, a estrutura, as apostas e alguma recompensa prova ser muito para fazer em 13-15 minutos (o episódio mais longo tendo cerca de 22 minutos). Esse é o outro lado da moeda quando você está contando histórias que não são canônicas.
Embora Disney + tenha lançado Visions na íntegra, seria aconselhável assisti-los um de cada vez, em vez de maratonar a temporada inteira de uma vez. Para realmente absorver todos os elementos do plano de fundo, não apenas o que está em primeiro plano, você deve manter o botão de pausa à mão. Pois, na melhor das hipóteses, ao misturar elementos díspares, Visions alcança aquela rara alquimia, capturando a magia tanto de Star Wars quanto de um anime.
Todos os episódios de Star Wars Visions estão disponíveis na Disney +
Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor de filmes valvulado. Jornalista do Norte que invadiu o Sudeste para fazer e escrever filmes.