REVIEW | FIFA 23: Último game da franquia é um ótimo mais do mesmo

Game mais popular de futebol joga no seguro, não traz tantas inovações, mas peca pouco.
By CAJR
30/09/2022

[Esse review foi escrito por meio da versão de teste de 10 horas disponível para assinantes da EA Play]

O FIFA 23 marca o fim de uma era para os games de esporte. Após uma parceria de quase 30 anos, que começou com jogadores como David Platt na capa, a Electronic Arts (EA) Sports se separou do órgão regulador do futebol por causa de um desacordo de licenciamento. Os futuros jogos da série agora abandonarão o nome FIFA em favor de um novo apelido EA Sports FC. O último jogo adornado com o nome familiar traz algumas novas adições espalhadas por seus vários modos de jogo - e o Ultimate Team vê sua mudança mais significativa em anos - mas, na maior parte, o canto do cisne da FIFA é um jogo de pequenas iterações.

O  FIFA 23 chega às lojas nesta sexta-feira (30) em meio a um dos ciclos mais intensos de todos os tempos, com calendários cada vez mais corridos, as repercussões da primeira pré-temporada normal depois de todas as complicações envolvendo a pandemia, e, principalmente, duas Copas do Mundo sendo realizadas nos próximos 12 meses (masculina em 2022 e feminina em 2023), o que naturalmente só intensifica o interesse e paixão ao redor do jogo.

Para não ficar para trás, a EA traz o maior e mais completo jogo da franquia até hoje, com uma série de novidades que prometem enriquecer a experiência para os jogadores, independente de qual seja o modo preferido deles. Isso sem falar nas prometidas atualizações pós-lançamento, incluindo conteúdos tematizados com ambas as Copas do Mundo de futebol masculino do Catar 2022 e de futebol feminino da Austrália e Nova Zelândia 2023.

FIFA 23

A grande novidade de FIFA 23 é a melhorada HyperMotion2. A tecnologia de captura de movimentos avançada e a tecnologia de aprendizado de máquina prometia entregar animações mais realistas em relação aos anos anteriores e, neste ano, a versão do jogo para os consoles da nova geração se mostram ainda mais ricos, com a tecnologia indo ainda mais além.

A movimentação dentro de campo é notoriamente mais fluída e realista do que no jogo anterior. O contato e movimentação entre os jogadores parece cada vez mais real e natural, tanto no ataque quanto na defesa, com posicionamento, botes e carrinhos levando a um contato físico mais natural entre os jogadores, assim como a bola seguindo caminhos mais naturais e parecendo um pouco menos grudada de forma antinatural nos pés dos jogadores.

Ainda existem algumas animações um pouco esquisitas e problemas antigos, como certos jogadores sendo capazes de costurar por toda uma defesa como se tivessem driblando cones imóveis (Vinicius Jr se destacando em especial nisso), mas a sensação que se tem é menos frustrante e gravosa do que em anos anteriores. Cabe dizer aqui que houve todo um esforço para tornar tudo mais fluido, incluindo as finalizações, além de dar um maior controle aos jogadores sobre os dribles, com todo um novo sistema de condução técnica.

FIFA 23

Percebe-se também que houve um claro foco na melhoria da relação entre aceleração e velocidade final entre os jogadores, então, mesmo os jogadores mais explosivos e ágeis ainda correm o risco de serem alcançados por defensores, já que a interação entre cansaço e velocidade final parece um pouco mais realista esse ano.

No entanto, o mesmo problema que já havia no ano passado da linha defensiva reagir lentamente ou zagueiros demorando para correr segue existindo, o que facilmente pode te colocar em situações de risco diante de adversários mais experientes. Isso demonstra que ajustes ainda serão necessários ao novo sistema de aceleração já que, apesar de ser possível minimizar o impacto disso ao se mexer nas táticas, ainda é frustrante sofrer gols simplesmente porque seus zagueiros demoraram alguns segundos para começar a correr na hora de dividir a bola com um atacante. Nisso, a IA dos zagueiros segue bastante defeituosa e urge a necessidade de melhoria que já vendo sendo apontada há anos.

É claro, para os jogadores mais experientes, não espere uma grande revolução no gameplay, já que ainda estamos falando do bom e velho FIFA, para o bem ou para o mal. E aqui cabe pontuar que, mesmo com todo o esforço para melhorar, os goleiros seguem sendo o calcanhar de aquiles da inteligência artificial do jogo. A esse ponto talvez seja necessário reconhecer que é impossível ter goleiros de alto nível no jogo, evitando assim que os jogadores se frustrem com muralhas intransponíveis, mas alguns dos gols sofridos são hilários, especialmente ao se usar a bastante poderosa mecânica do Superchute (que, apesar de um pouco lenta para ser executada, nas mãos certas é quase imparável).

FIFA 23

Em relação ao gameplay, algo que merece elogios também é o novo sistema de bolas paradas. Cobranças de falta e escanteios se tornaram muito melhores agora, com o jogador tendo mais controle sobre onde vai bater na bola e a direção da cobrança. A linha prévia ajuda bastante, mas a prática é fundamental, tanto quanto para aprender a nova mecânica de cobrança de pênaltis através do círculo pulsante.

Defender também se tornou um pouco melhor, com o jogo reajustando o sistema de troca de jogadores na defesa para se tornar mais eficiente, em especial ao se usar o analógico direito, bem como toda uma mecânica que te permite cercar com maior eficiência a bola e dar botes mais eficazes. Ainda é o lado menos eficiente do jogo, mas melhorias importantes também foram alcançadas aqui.

Cabe dizer também que todos esses ajustes e melhorias se aplicam tanto ao tradicional futebol masculino da série, quanto à inclusão relativamente recente do futebol feminino. A HyperMotion2 também trouxe a captura de movimentos de partidas de futebol feminino, então as animações e movimentação das jogadoras também se tornaram mais real. Apesar de ainda ser bem limitada, a inclusão das duas principais ligas femininas do mundo, a WSL e a D1F, é um passo na direção certa e complementando as já presentes seleções.

FIFA 23

Dito tudo isso, cabe aqui seguir a mesma reclamação que já havia sido apontada no ano passado: FIFA 23 segue sendo um jogo que falha em capturar o espírito coletivo do futebol. Ainda é muito fácil decidir tudo com um jogador mais habilidoso, com velocidade e técnica suficientes para desequilibrar uma partida. Enquanto isso seria totalmente aceitável e até esperado quando a diferença entre um 1×1 e um 2×1 é o quão especial Vinicius Junior, Mbappé ou Haaland são, isso se torna menos uma representação do futebol e mais uma quebra de imersão quando são a diferença entre um 1×1 e um 7×1 num piscar de olhos.

Então se você espera algo aqui que vá capturar o trabalho em equipe ou a qualidade coletiva superando o talento individual, FIFA 23 definitivamente não melhorou em relação aos anos anteriores. Talvez o mais perto que ele chegue disso seja a reformulação do sistema de entrosamento do FUT, mas não espere aqui ver times onde o sistema é a verdadeira estrela tendo muito destaque, já que o jogo pesa muito para as habilidades individuais das estrelas.

Claro, saber tocar a bola e movimentar os seus jogadores para posições mais vantajosas ainda te dará uma considerável vantagem e saber ajustar e preparar o seu time na prancheta pode pender o jogo ao seu favor, mas ainda é estupidamente fácil se defender e sair em velocidade com passes precisos e lançamentos, tornando a transição infinitamente mais letal do que um uso virtual de gegenpressing. Jogar mais como José Mourinho do que Pep Guardiola, Thomas Tuchel ou Jurgen Klopp segue sendo a arma mais letal de um bom jogador de FIFA.

FIFA 23 Juventus

Sobre os aspectos técnicos do jogo, a versão de PS5 é inegavelmente um espetáculo visual - entretanto, vale destacar que este texto é baseado na versão para PC, que é a mesma na antiga geração de consoles, PS4 e Obox One.

Modos de jogo

Já nos modos de jogo, você provavelmente já sabe o que esperar daqui. O modo Carreira felizmente segue sem tentar trazer de volta algum tipo de narrativa estúpida, te permitindo criar um jogador, escolher o seu time e treinar e jogar para se desenvolver, assumindo a titularidade do seu time e eventualmente se transferindo ou se tornando uma estrela do futebol pelo time que te revelou. Por outro lado, a carreira de técnico segue, essencialmente, a mesma, apenas com a possibilidade de se controlar técnicos reais e pequenas alterações na lógica de transferências para este ano.

O FUT é basicamente o mesmo modo, salvo pela já mencionada reformulação do sistema de entrosamento do seu time, que agora te permite identificar com maior facilidade o que precisa ser ajustado para melhorar o seu resultado em campo. A outra mudança são os “Momentos do FUT”, cenários curtos que vão te recompensar ao completar curtos cenários, exigindo assim que você invista menos tempo para conseguir reforçar o seu time, com novos Momentos sendo adicionados ao longo do ano.

Futebol é vida!

Em uma jogada de relações públicas, o AFC Richmond (da série Ted Lasso) também é um time jogável no FIFA 23. Você verá Ted Lasso patrulhando a linha lateral e saindo do túnel com uma escalação com nomes como Roy Kent e Jamie Tartt. É uma jogada divertida para os fãs da série, embora não vá a lugar nenhum além do visual. Você pode selecionar Richmond no modo carreira e colocá-los na Premier League, mas as coletivas de imprensa ainda usam as mesmas respostas genéricas, portanto, não espere linhas específicas de Ted. A seleção de Richmond também o coloca em um buraco para começar, porque o esquadrão é muito pequeno. As posições de banco e zagueiro são preenchidas por jogadores genéricos em vez de não haver personagens suficientes no show, mas parece um descuido que não há mais deles. Você precisa gastar sua primeira janela de transferência comprando reservas para quase todas as posições, então poder usar Richmond no modo carreira não parece particularmente bem pensado.

Entretanto, por mais que seja apenas visual, é incrível poder fazer essa tabela entre uma das séries mais queridas da atualizadade com um jogo tão popular. Eu, particularmente, vou jogar com o AFC Richmond em todas as possibilidades possíveis no game.

FIFA 23

Por fim, o Volta segue firme e forte em sua caminhada para tentar criar o próprio metaverso do FIFA, com o principal destaque ficando por conta da maior integração com os Pro Clubs. Volta segue sendo bastante descompromissada, com a inclusão de vários novos minigames para você jogar e melhorar suas habilidades antes de partir para o campo. Tudo o que você fizer nele irá te render XP de Desenvolvimento, te permitindo assim melhorar o seu jogador e levá-lo para as partidas 11 contra 11 online do Pro Clubs.

Basicamente, tudo o que você fizer neles, incluindo aí partidas no Arcade, Elencos ou Batalhas do Volta ou Ligas, Copas e afins no Pro Clubs, também irão render pontos que contarão para o seu progresso na Temporada atual. Com isso, você irá ganhar cada vez mais recompensas independente do que você fizer neste modo. É algo bem-vindo para os fãs desse estilo mais de “futebol de rua” que o Volta tenta criar, mas não há nada realmente novo que irá conquistar alguém que já não esteja suscetível a sua premissa.

FIFA 23

Então, dito tudo isso, o que FIFA 23 realmente traz de novo? É difícil dizer. A cada ano que passa, os jogos de esporte parecem cada vez mais consolidados em suas respectivas fórmulas, raramente desviando muito do que já havia sido entregue no ano anterior, apenas com pequenos ajustes, notórios mas que, no grande esquema das coisas, não são tão impactantes assim. Se você é um fã apaixonado por FIFA ou jogador casual em clima de copa, há muito o que tirar do jogo e se divertir aqui. Se você é um crítico de longa data, ele não vai mudar sua opinião.

Enquanto as críticas normais de que a série está mais preocupada em vender cartas do FUT e microtransações não soam mais tão reais, ainda que tenham seu devido embasamento em fatos, dada a riqueza da experiência que se pode tirar dos outros modos, não há nada de novo que possa me fazer dizer que temos aqui algo além de uma versão atualizada e melhorada do jogo anterior. FIFA 23 é mais FIFA, com tudo o que de bom e de ruim que isso significa.

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CAJR - Carlos Alberto Jr

Resultado de uma experiência alquímica que envolvia gibis, discos e um projetor de filmes valvulado. Jornalista do Norte que invadiu o Sudeste para fazer e escrever filmes.
  • Animes:Cowboy Bepop, Afro Samurai e Yu Yu Hakusho
  • Filmes: 2001 – Uma Odisseia no Espaço, Stalker, Filhos da Esperança, Frank e Quase Famosos
  • Ouve: Os Mutantes, Rush, Sonic Youth, Kendrick Lamar, Arcade Fire e Gorillaz
  • Lê: Philip K. Dick, Octavia E. Butler, Ursula K. Le Guin e Tolkien
  • HQ: Superman como um todo, assim como as obras de Grant Morrison e da verdadeira mente criativa por quase tudo na Marvel: Jack Kirby